29 janeiro 2010

A melhor cidade - a questão da subjetividade urbana.

Aspecto de uma cidade na Hungria
Crédito Bela Kiefer
Muito se lê sobre as melhores cidades, sejam do Brasil ou do mundo. O termo vem com alguns complementos: melhores cidades para se viver, melhores cidades para se morar, melhores cidades para se trabalhar, etc.; não raro também é possível ler: as cidades mais bonitas, as cidade mais lindas, etc.
Aqui lidaremos com a subjetividade do espaço urbano. Nesse caso todas as aplicações do termo melhor, aplicados no caso acima, que na condição exposta possuem função de adjetivo comparativo de superioridade, tornam-se relativos. Pois que só fazem sentido se trabalharmos com índices para podermos estabelecer uma comparação, p. ex.: índice firjan, IDH, PIB, etc.
Para entendermos um pouco o que é uma subjetividade urbana acompanhem as palavras de Yi-fu Tuan:
"Os estímulos sensoriais são potencialmente infinitos: aquilo a que decidimos prestar atenção (valorizar ou amar) é um acidente do temperamento individual, do propósito e das forças culturais qu atuam em determinada época." (TUAN, 1980.p 129).
Aspecto de Nova Itapirema. Dist. de Nova Aliança
região de São José do Rio Preto.
Foto: Alexandre de Freitas.
Na história da humanidade são vários os casos em que um povo se achava o centro do mundo, traços do etnocentrismo e do egocentrismo comuns a todos seres humanos. "Os egípcios antigos, separados pelo deserto e pelo mar, dos seus pares na Mesopotâmia, estavam certos que eram superiores aos povos que encontraram além das bordas do vasle do Nilo" (TUAN, 1980 p.35.)
Exemplos como esse dos egípcios poderiam ser usados para vários povos.
Essas características de valorizar um lugar, seja país, cidade, bairro, etc. é que produz a subjetividade do espaço urbano. Notamos de forma empírica e sem maiores preocupações em entender o porquê, que algumas pessoas elogiam cidades que no contexto estatístico (qualidade de vida, infraestrutura, emprego, etc) estão em estado deprimente, mas mesmo assim elas gostam dali.
Nota-se muito situações onde os nordestinos insistem demasiadamente com o sertão "bravo" para permanecerem ali, esses são os vínculos característicos dos seres humanos. Músicas, filmes, poemas são produzidos influenciados com essa tendência de pertencer, de gostar, que não pode ser explicado plenamente com dados estatísticos.
Todo esse imaginário e essa subjetividade ainda não estão sendo tratados com o esmero que deveria, são categorias que indiscutivelmente estão presentes e são responsáveis por grandes decisões que não abrangem somente questão pessoais mas sim todo um grupo de pessoas. Fazendo com que sejam valorizados a singularidade e a pluraridade dos lugares no mundo, influenciando, também, no entendimento e na preservação de patrimônios históricos materias e imaterias de povos e comunidades que mantêm seus vínculos e afeições por certas cidades às vezes não divulgadas e esquecidas.
Dessa forma, defendemos que para se afirmar que uma cidade é melhor deve-se usar de um instrumento de comparação e se apoiar em critérios pré-estabelecidos.
No mais, uma das políticas de publicação desse espaço é justamente divulgar Cidades e Lugares pouco conhecidos que possam despertar sentimentos dotamos de auto grau de subjetividade.

Referências:
TUAN, Yi-fu. Topofilia.São Paulo: Difel, 1980.
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: geografia. Secretaria do Estado da Educação. Brasília: MEC/SEF, 1998.
Sugestões de leitura:

Um comentário:

Filipe Peres disse...

Alexandre, o que você escreve é fato. Parto de minha própria experiência. Tenho excelentes recordações de Brasília e Lima, gosto muito de Ribeirão Preto e tive uma adolescência feliz em Pontal. Percebeu que faltou uma cidade ser mencionada? Pois é, faltou o Rio de Janeiro. O Rio foi considerada não sei por qual orgão, a cidade urbana mais bonita do mundo e o seu povo o mais feliz (em outra pesquisa). Entretanto, as melhores recordações que tenho de minha época lá foram as recordações dos jogos do Vasco em São Januário e Maracanã.
Realmente, o que nos liga a uma cidade é a relação subjetiva que temos com o lugar. E tanto isto é verdade que só fui ao Rio umas 4 vezes desde que saí de lá em 92 (isso que a minha mãe e boa parte da família moram lá).

Um abraço
Filipe

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