22 fevereiro 2010

Cidades - o sentido da periferia.


O acesso ao solo urbano, a um pedaço de terra, dá-se de forma segregada. A propriedade está na base do sistema capitalista e tem caráter jurídico.
O como e o onde uma pessoa adquiri terras em uma cidade, dependerá de como o espaço está hierarquizado. No campo as discussões sobre terra podem colocá-la como não-mercadoria que através do trabalho torna-se rendável, na cidade a terra tem valor pelo trabalho que foi realizado visto que a cidade é uma produção humana.
O contexto da cidade é formado por áreas onde algum tipo de trabalho foi realizado fazendo com que houvesse a agregação de valor. O centro da cidade, que para Vilaça surge devido a necessidade de afastamentos indesejados, pelo menos nas grandes cidades, não atraí os moradores das classes mais abastadas. Não raro, acaba concentrando pessoas das classes mais baixas em áreas que se apresentam com sérias degradações e esquecimento.
O afastamento se dá nas áreas periféricas, de modo que os acessos aos equipamentos públicos e demais áreas que surgem por força produtivas sejam facilitados ao máximo. Assim, as localidades ligadas por boa vias que dão acesso ao locais de trabalho, escolas, shoppings, áreas de lazer, centros de compra são aquelas mais valorizada.
Tanto as classes mais abastadas como as menos favorecidas acabam nas periferias. As primeiras em busca de ar puro, longe da correria que as áreas mais concentradas apresentam, normalmente em terrenos grandes que dispõem de toda infraestrutura. Os menos favorecidos também são impelidos para periferia, só que por motivos distintos daqueles que agem nas classes altas. A população de baixa renda ocupa as áreas onde a infraestrutura e precária e, de modo geral, as vias de acesso não são as melhores e não favorecem regularidade de transporte público de qualidade.
A grande metrópole de São Paulo - a capital do estado - da-nos bons exemplos desse fenômeno que ocorre com as periferias, Ana Fani os observa assim:
"Um tipo de moradia é aquela destinada às classes de renda média e alta que fogem da metrópole em busca a natureza e do ar puro, longe dos inconveniente que o 'progresso' trouxe. É o caso da Granja Viana (a oeste). Outro tipo de moradia encontra-se nos loteamentos destinados à população de baixo poder aquisitivo que se refugia na periferia onde os preços são menores." (CARLOS, Ana Fani A.,2009.p.55)
Dessa forma, nem sempre a periferia é sinônimo de áreas distantes longe da área concentrada de pouco valor agregado. O valor além de ser dado pela infraestrutura local é produto de um status de morar, uma qualidade de vida induzida pela publicidade e por uma cultura que dá aos que podem uma certa distinção. Também, deve-se analisar, que para quem possui meios de transporte próprio o tempo para se chegar a região urbana que oferece produtos e serviços pode ser encurtado. Esses fatores dificilmente agem nas periferias ocupadas pelos mais "pobres", ali não é apenas a distância que as torna periferia, mas a ausência de todas as infraestruturas e dos signos que acompanham a periferia dos "ricos".

Referências:
CARLOS, Ana Fani A. A cidade. 8ed.São Paulo: Contexto, 2009.
VILLAÇA, Flávio.Espaço intra-urbano no Brasil.2ed. São Paulo: Studio Nobel:FAPESP: Lincoln Institude, 2001.
Sugestões de leitura:

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